Numa entrevista em 2009, Louise Gluck afirmava que um poema "é uma comunicação entre uma boca e uma orelha, não literalmente, mas de uma mente que envia uma mensagem e uma mente que a recebe". "Para mim, a experiência oral de um poema é transmitida visualmente. Eu oiço com os meus olhos e não gosto de ler e ser lida em voz alta (exceto em raras ocasiões)", afirmou.
in JN
O Observador reproduz o poema "Paisagem" na sua tradução para português:
Nos fins do outono uma rapariga deitou fogo
a um trigal. O outono
fora muito seco; o campo
ardeu como palha.
Depois não sobrou nada.
Se o atravessávamos, não víamos nada.
Nada havia para colher, para cheirar.
Os cavalos não compreendem –
Onde está o campo, parecem dizer.
Como tu ou eu a perguntar
onde está a nossa casa.
Ninguém sabe responder-lhes.
Não sobra nada;
resta-nos esperar, a bem do lavrador,
que o seguro pague.
É como perder um ano de vida.
Em que perderias um ano da tua vida?
Mais tarde regressas ao velho lugar –
só restam cinzas: negrume e vazio.
Pensas: como pude viver aqui?
Mas na altura era diferente,
mesmo no último verão. A terra agia
como se nada de mal pudesse acontecer-lhe.
Um único fósforo foi quanto bastou.
Mas no momento certo – teve de ser no momento certo.
O campo crestado, seco –
a morte já a postos
por assim dizer.
(Terceira parte do poema Paisagem, que
integra o livro Averno, 2006. Tradução de Rui Pires Cabral, publicada
em 2009 no n.º 12 da revista Telhados de Vidro, editada pela
Averno)
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